Protocolos Tabata

Fisiologia & Nutrição, Resistência, Treinamento Funcional, Velocidade

Estou vendo com assombro a epidemia de protocolos “Tabata”! Tabata para agachamento, flexões de braço, corridas, pular cordas, polichinelos, meio sugados… tem aplicativos para Tabata no celular, músicas para Tabata… em breve surgirão os adesivos para carros, camisetas, broches, fã clubes, etc. Mas, afinal de contas, que história é essa de Tabata?

Em 1996, um grupo de pesquisadores do Instituto de Aptidão Física e Esportes da Prefeitura de Kagoshima publicou estudo no qual foram comparados os efeitos de dois protocolos na capacidade aeróbia e anaeróbia de jovens treinados: treinamento contínuo (60′ a 70% do VO2máx) e intervalado (7-8 tiros de 20″ por 10″ de intervalo). Os resultados impressionaram ao mostrar que o protocolo de apenas 4 minutos de duração produziu resultados expressivos tanto na capacidade aeróbia quanto anaeróbia!!!

Com base nesse estudo, muitos treinadores e professores começaram a utilizar treinos curtos e intensos, conseguindo excelentes resultados (isso há uns 20 anos). Recentemente, com a redescoberta da intensidade, a velhas novidades receberam grande atenção e houve uma febre de adaptações desse protocolo para as mais diversas e inusitadas situações! Agora aos pontos:

– o protocolo foi criado por Kouichi Irisawa, treinador da equipe japonesa de patinação de velocidade e já era usado por diversos anos antes do estudo ser publicado. Por que ninguém lembra do coitado!?!? Que tal mudarmos para Irisawa Training, para sermos justos?

– o protocolo foi exaustivo, e a proposta era que se alcançasse a falha (impossibilidade de manter a frequência de pedalada a 85 rpm) entre o sétimo e oitavo tiro. Isso não tem nada a ver com fazer estímulos máximos a cada tiro, pois seria impossível repetir algo assim após descansar 10 segundos!!! Para se ter ideia, a intensidade seria de aproximadamente 170% da intensidade de VO2máx (Tabata et al., 1997), algo que poderia ser mantido por cerca de 1 minuto.

– esse protocolo é para ser usado em situações específicas e em dias alternados, pois há grande fadiga periférica. Portanto, o uso dele todo dia e até mesmo várias vezes por dia não seria recomendado! Por exemplo, há quem realize protocolos “Tabata” para o mesmo músculo em diversos exercícios (agachamentos, saltos, bicicletas…), o que pode gerar um excesso de treinamento com descanso insuficiente.

O que precisamos saber? Que Tabata foi o primeiro autor de um estudo que mudou a forma como muita gente vê a prescrição de exercícios, mas não o criador do protocolo. Suas pesquisas marcaram o treinamento e trouxeram muitas informações importantes para a prescrição de exercício, mas, sinceramente, não tem nada a ver com o que tem sido feito por aí.

Seria bom que se lesse (o estudo do Tabata tem apenas quatro páginas!!) e refletissem antes de se falar em “Tabata não-sei-o-quê”. É muito bom mudar e inovar, mas antes de seguirmos moda ou inventarmos moda, seria interessante ao menos se fazer uma análise do que se está propondo e revisar as evidências científicas sobre o tema.

(Paulo Gentil)

Tabata I, Nishimura K, Kouzaki M, Hirai Y, Ogita F, Miyachi M, Yamamoto K. Effects of moderate-intensity endurance and high-intensity intermittent training on anaerobic capacity and VO2max. Med Sci Sports Exerc. 1996 Oct;28(10):1327-30.
Tabata I, Irisawa K, Kouzaki M, Nishimura K, Ogita F, Miyachi M. Metabolic profile of high intensity intermittent exercises. Med Sci Sports Exerc. 1997 Mar;29(3):390-5.

 

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