Padrões de Movimento

Treinamento Funcional

Para se ensinar uma técnica correta é importante conhecer o padrão de movimento básico do corpo. A técnica correta não favorece nada se o padrão de movimento específico nãofor específico. Treinar padrões específicos de movimento provoca os maiores ganhos para o desempenho competitivo. Muitos prepraradores físicos utilizam exercícios de força no seu programa de treinamento preocupados apenas com ganho de força ou a fadiga muscular que causa a sensação de “queimação” na musculatura. Outros treinadores utilizam os exercícios funcionais que simulam os movimentos específicos do esporte. O treinamento da habilidade técnica do baseball, por exemplo, é de inteira responsabilidade do técnico dentro do campo mas não no ginásio de musculação. Simular habilidades esportivas na sala de musculação com muita sobrecarga pode causa efeitos negativos no desempenho. O trabalho do preparador físico na sala da musculação é treinar padrões de movimento específicos que levam a aumentar o nível de jogo dos atletas. O corpo aprende a desempenhar o movimento com mais potência enquanto conserva energia e diminui o potencial de lesão.

Muitos técnicos tem conhecimento básico de anatomia e cinesiologia, mas quanto desse conhecimento é aplicável para ensinar corretamente a técnica de padrões específicos de movimento? A Anatomia é a ciência capaz de identificar cada músculo, articulação e ossos como estruturas separadas. A Cinesiologia está preocupada como o movimento do corpo através da análise dos movimentos de uma articulação específica e as forças do ponto de vista mecânico. Por exemplo, nós sabemos que a flexão de cotovelo acontece pela contração do bíceps, que puxa sua inserção no ante–braço até sua origem no ombro. Isso é correto, mas a flexão de cotovelo também ocorre quando baixamos nosso corpo para executar o exercício de “flexão de braço”. A força da gravidade faz isso, controlada pelo músculo tríceps.

Meu objetivo é mostrar o conhecimento específico de padrões de movimento que não podem ser aprendidos pela forma tradicional da anatomia e cinesiologia que sabemos. Eu poderia passar um programa de exercícios para vocês aplicarem ao seus atletas. Mas do que adiantaria se você não conhece os princípios básicos de quais exercícios utilizar e pra que servem. Ao longo do ano escrevi vários artigos, onde vocês podem obter esse conhecimento gradualmente e aplicá–los de acordo com as necessidades individuais de cada atleta. Existe uma reação de causa e efeito entre a contração muscular, movimento da articulação e consequentemente o movimento do corpo. Sempre que possível, isso será feito baseado em ciência aplicada. Existem muitas opiniões e teorias de como o corpo funciona. Minhas idéias de treinamento de força evoluem conforme as pesquisas avançam. Minha intenção e fazer você pensar sobre o que está fazendo no condicionamento de força de seus atletas. Se o seu programa não mudar ou evoluir, então você não está aprendendo.

O esqueleto humano é uma série de segmentos unidos que atuam conjuntamente. Os segmentos interagem uns com os outros através das articulações. Os movimentos articulares são controlados pelas ações musculares. O músculo estabiliza e mobiliza o movimento de cada articulação. Os músculos inserem no osso, atravessam a articulação e inserem novamente em outro osso. Abaixo segue um modelo de uma articulação que conecta dois segmentos que representam os ossos. O músculo é representado pela forma em vermelho. Neste modelo, ambos os segmentos possuem a mesma massa e a inserção muscular ocorre na mesma posição em ambos, além disso, os segmentos se movimentam igualmente para a mesma direção. Isso segue a lei de Newton que diz: “Para cada ação existe uma reação de mesma intensedade na direção oposta”. Neste modelo assumimos que os segmentos estão unidos pelos ligamentos da articulação.

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O músculo apenas pode “puxar” os segmentos, mas não pode “empurrá–los” de volta a posição original. Portanto um músculo oposto deve ser inserido no outro lado da ariculação para fazer a rotação na direção oposta. Os músculos inseridos no lado oposto da articulação são chamados de pares antagonistas. Músculos antagonistas trabalham para que o movimento sincronizado da articulação ocorra. Quando o músculo (vermelho) contrai e encurta seu comprimento (ação concêntrica) aproximando os segmentos ósseos é chamado de ação primária. O músculo que fica do lado oposto da articulação alonga (ação excêntrica) controlando o movimento. É chamado de músculo antagonista. O antagonista não “relaxa” completamente, ele se alonga e exerce tensão. Essa tensão é o que controla a velocidade da articulação. (Nota: a partir de agora o vermelho significa uma ação concêntrica enquanto que o azul uma ação excentrica!). O pares antagonistas trabalham em conjunto para dar estabilidade á articulação. A força exercida pela ação concêntrica do músculo de um lado da articulação provoca uma enorme tensão na articulação. Com a ação do antagonista essa tensão é diminuída.

Todos os músculos esqueléticos humanos possuem orgãos sensitivos chamados de fibras do fuso que monitoram a tensão do alongamento muscular. Quando alongado até o limite, o fuso reage contraindo e se tornando a ação principal. Simultaneamente envia uma menssagem, através de um reflexo, para a contração do par antagonista para que uma lesão não aconteça. Esse mecanismo é chamado de inibição recíproca.

O modelo abaixo representa melhor o corpo humano. (A) Um dos segmentos é o pé e o outro a extremidade da tíbia. Primeiro vamos analisar o movimento de cadeia cinética fechada onde a extremidade do segmento fica fixa. (B) Na articulação do tornozelo a tíbia pode apenas flexionar para a frente quando o pé está fixado totalmente no solo. A gravidade causa o torque da flexão. Isso é chamado de dorsi–flexão, quando o ângulo entre o pé e a tíbia diminui. (C) Para puxar a tíbia novamente para trás, o músculo sóleo age concentricamente. Isso é chamado de flexão plantar, quando o ângulo entre o pé e a tíbia aumenta. Observa–se que a tíbia rotaciona sobre o pé fixo.

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Agora daremos uma olhada no chamado movimento de cadeia cinética aberta, onde a extremidade fica livre (A). Esse é o modo como aprendemos os movientos do pé numa aula de anatomia. Praticamente tudo é o inverso. (B) A planta do pé flexiona devido o torque causado pela gravidade. O músculo tibial anterior na parte da frente da tíbia controla esse movimento. (C) A dorsi–flexão acontece e o tibial anterior contrai concentricamente. Esse modeo assume que a tíbia é fixa permitindo o pé rotacionar sobre ela. Deste modo o pé e a tíbia podem apenas aproximar um do outro.

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O modelo abaixo representa um grupo muscular que atavesssa uma articulação. São chamados músculos biarticulares aqueles que atuam em duas articulações. Os isquios tibiais, o reto femoral e o gastrocnemio são exemplos de músculos biarticulares. Abaixo segue uma representação simplificada dos músculos biarticulares do quadril e joelho. Ela consiste em três segmentos com duas articulações sendo o segmento do meio fixo. Dois tendões fixam as extremidades dos segmentos no lado oposto das articulações formando uma sistema fechado. Se um dos tendões que conecta as estruturas é puxado em uma direção, provoca o movimento conjunto das outras estruturas unidas por ele na mesma direção e distância. Se o tendão é movimentado na direção contrária, ocontece a reversão do movimrnto na mesma direção. Os tendões mantém as estruturas unidas através da manutenção do seu comprimento ou, em termos de ação muscular, uma ação isométrica. Isso permite a transferência do trabalho mecânico para outro segmento. Novamente esse modelo assume que o segmento do meio é fixo permitindo movimento dos segmentos das extremidades.

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Agora vamos adicionar mais ossos, articulações e músculos. Se o pé estiver fixo no solo e o corpo é abaixado, como quando a gente senta, perceba qua as três articulações rotacionam com a força da gravidade. Cada articulação é controlada por seu próprio grupo muscular.

Sóleo – controla excêntricamente o movimento no sentido horário do tornozelo

Quadríceps – controla excêntricamente o movimento anti–horário do joelho

Glúteos – controla excêntricamente o movimento no sentido horário do quadril

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O joelho e o quadril são atravessados por três grupos de musculos biarticulares que são antagonistas mas complementares aos músculos que cruzam uma única articulação (uniarticulares). Note que esses músculos possuem duas cores. Lembre–se que eles não alteram seu comprimento durante a ação articular. Isso acontece através de uma ação pseudo–isométrica (Palmitier, 1991) ou ação simultânea excêntrica e concêntrica. Azul é ação excêntrica e vermelho concêntrica. O importante é lembrar que os músculos biarticulares não alteram o comprimento, como muitos acham, quando fazem um movimento básico como correr.

Isquios–tibiais – no quadril: ação excêntrica para desacelerar a flexão. No joelho: ação concêntrica ocorre para permitir a flexão

Reto femoral – no quadril: ação concêntrica para permitir a flexão. No joelho: ação excêntrica para desacelerar a flexão

Gastrocnemio – no joelho: ação concêntrica para a flexão joelho. No tornozelo: ação excêntrica para controlar a dorsi–flexão.

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Para que o corpo retorne a posição inicial, deve haver a reversão da rotação de todas as articulações e ações musculares.

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Músculos biarticulares podem fazer ações que não podem ser suportados por músculos uniarticulares, como:

CoordenaÇÃo: Os músculos biarticulares promovem a coodenação entre articulações adjacentes mesmo que estas rotacionem para lados opostos. Quando uma articulação flexiona, todas as outras simultaneamente seguem para a flexam, e vice–versa.

Sinergia: Permite todas as origens e inserções, tanto biarticulares quanto uniarticulares, em ambos os lados da articulação, seguirem conjuntamente para a mesma direção. Com isso, o movimento articular é totalmente estabilizado.

Tensionamento: O termo criado por Buckminister Fuller significa integridade da tensão. A força de um músculo uniarticular pode ser redistribuida através de uma rede tensional dos músculos biarticulares. A carga pode então ser redistribuída de forma igual por todas as articulações, ao invés de ficar concentrada na articulação que possui maior massa muscular. Assim, a potência dos glúteos pode ser transferida para ajudar a provocar a rotação do tornozelo. Isso permite que o maior músculo fique no quadril enquanto a extremidade da perna carregue pequenos grupos musculares, sendo capaz de se movimentar rapidamente.

Conservação: Como os músculos biarticulares não modificam o comprimento e todas as origens e inserções movimentam–se na mesma direção, isso permite gerar uma enorme tensão com mínimo esforço. Um músculo uniarticular não consegue desenvolver tanta tensão como uma ação pseudo–isometrica.

Em resumo, exercícios são padrões de movimeto que você tentar aumentar a força. é importante que esses exercícios fortaleçam movimentos específicos que permitam melhorarr o desempenho esportivo. Eu recomendo lembrar de três princípios quando selecionar um exercício. Primeiro, escolha exercícios que permitam aplicar força contra o solo. Um salto não é possível sem aplicar força no chão. Segundo, escolha exercícios que utilizem múltiplas articulações simultaneamente. A distribuição de força pelas articulações deve ser treinada com o correto padrão de recrutamento neuromuscular. Terceiro, escolha exercícios que permitam sinergia. Equipamentos de musculação ou aparelhos que você senta ou deita restrigem a estabilização do corpo. O corpo humano necessita de ajustes de tensão de todo o sistema musculo–esquelético para exercutar corretamente uma tarefa. Não deveria o treinamento de força utilizar padrões que reflitam esse sinergismo? Não cause desequilíbrios usando padrões de movimento que isolam um único músculo em um lado da articulação. A repetição deste tipo de padrão irá afetar a integridade funcional do corpo.

Exercícios que atendem os três princípios incluem: agachamentos, afundos, puxadas, levantamentos olímpico e levantamentos básicos. Faça exercícios uniarticulares como rosca, tríceps e remadas na posição de pé.

Referencias:

  • Palmitier RA., An KN, Scott SG, Chao EYS. Kinetic Chain Exercise in Knee Rehabilitation. Sports Medicine 11 (6) 402–413 1991
  • van Ingen Schenau GJ, Bobbert MF, van Soest AJ. The Unique Action of Bi–Articular Muscles in Leg Extensions. Multiple Muscle Systems: Biomechanics and Movement Organization (41) 639–652, 1990
  • Steindler A, Kinesiology of the Human Body: Under Normal and Pathological Conditions, 1955
  • Rasch PJ, Burke RK, Kinesiology and Applied Anatomy: The Science of Human Movement, 1971



.: Mike Arthur, (EUA), University of Nebrasca Athletics – Baseball strenght coach

.: U.S. Collegiatte Strenght and Conditioning Coaches Hall of Fame em Julho de 2003

3 comments

  • Só queria saber de forma objectiva e simples qual é a diferença entre pilares e padrões dos exercícios/movimentos

  • Muito bom. Parabéns!
    Eu estava procurando entender as relações da posição da pelve com o joelho seguindo os trilhos anatômicos e tua explicação me ajudou muito.
    Obrigada!

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