Futebol:Exercícios integrados para o treino de agilidade e velocidade

Futebol

Em outro artigo do TE.com (Os exercícios integrados no futebol) abordei a aplicação de um tipo específido de exercício voltado para a preparação física, os exercícios integrados. Neste artigo, volto a discutir sobre eles, mas desta vez de um forma mais aplicada. Para isto, apresentarei uma sequência de trabalho com quatro exercícios elaborados a partir de uma componente básica comum, que vai sofrendo algumas alterações com o objetivo de aproximar esta componente básica de ações específicas do jogo de futebol.

Num primeiro momento é interessante optar por não incluir a bola no exercício, pois o objetivo desta primeira etapa é fazer com que os jogadores se familiarizem com a ação de perseguição (defensor perseguindo atacante) que será a componente básica de nossos exercícios. O primeiro exercício pode ser observado pela Figura 01.

Como referido anteriormente, este exercício consiste numa atividade perseguição, na qual o atacante (verde) para pontuar deve tocar o cone antes que o defensor (vermelho) saia do retângulo. O atacante pode partir de uma posição de frente ou de costas para o defensor. Para que o atacante atinja seu objetivo mais facilmente ele deve, além de ter a velocidade de saída e aceleração bastante intensas, optar por utilizar fintas de corpo, bastante conhecidas como “gatos” (pequenos deslocamentos laterais em alta velocidade interrompidos por brusca mudança de direção – Figura 1 na variante inferior esquerda). Também pode ser estratégia para atingir um ponto, um falso sprint para um dos cones seguido de uma rápida mudança de direção e sprint para o outro cone – Figura 1 na variante inferior direita.

Os meios de aplicação dos exercícios, ou seja, quantidade de repetições, séries, tempo de recuperação, entre outras não serão discutidos neste artigo. Numa próxima oportunidade elaborarei algumas estratégias de aplicação dos mesmos para o treino de velocidade e resistência de velocidade, e também para o treino anaeróbio láctico.

Para aumentar a intensidade das ações, podemos por exemplo, aumentar o comprimento do retângulo, fazendo com que os jogadores tenham que percorrer uma maior distância para atacar ou defender. É importante ressaltar que quanto menor a distância percorrida, maior é a importância da velocidade de saída. Ao elevar-se a distância percorrida, a participação da aceleração no resultado final (conquistar o ponto) também se eleva. O comprimento do retângulo pode medir entre 4m e 20m.

Podemos observar neste exercício que os jogadores, além de treinar as capacidades físcas exigidas: velocidade de saída, aceleração e mudança de direção, são obrigados agir levando em conta as ações do adversário. O atacante tendo que encontrar o momento de certo de fazer uma ação, e assim tentar combinar uma possível vantagem física (ao tentar ser mais rápido) com uma possível vantagem de tempo, ou seja, realizar uma ação inesperada, através de um “gato”, ou se uma mudança de direção imprevista para o defensor, fazendo com que o defensor perca tempo para iniciar ou continuar a perseguição. Já o defensor, terá combinar as exigências físicas do exercício (tentando sempre ser mais rápido que o atacante) com uma possível antecipação das ações do adversário, ou seja ele vai tentar adivinhar a intenção do atacante não permitindo que ele faça alguma ação inesperada.A Figura 02 apresenta o segundo exercício.

Como podemos observar, no segundo exercício são introduzidas duas bolas, substituindo os dois cones, e dois pequenos gols. Neste exercício, o objetivo de “tocar o cone” antes que o defensor saia do retângulo é substituído pela necessidade de fazer um gol, porém, para a validação do gol, o atacante deve tocar a bola antes que o defensor saia do retângulo. Com este exercício, os atacantes, além de vivenciarem as situações descritas no primeiro exercício, deverão também adaptar a ação de velocidade a um elemento técnico do jogo, a finalização, ou mesmo o passe, uma vez que, por se tratar de um gol de tamanho reduzido e sem goleiro, os atacantes utilizarão muitas vezes técnicas apropriadas para o passe com a finalidade de obter maior precisão. Os defensores, continuarão a realizar uma tarefa bastante semelhante ao primeiro exercício. A Figura 03 apresenta o terceiro exercício.

No terceiro exercício podemos ver a participação de mais jogadores. Estes jogadores auxiliam as ações do atacante.

Neste momento somamos à forma básica dos exercício anteriores a necessidade do atacante, ao de “desmarcar” para fora do retângulo, tabelar com o jogador auxiliar daquele respectivo lado do retângulo. Ou seja, os jogadores auxiliares devem estar preparados para fazer um passe no momento que o atacante se desmarcar em sua direção. Para a validação do ponto, o atacante deve receber a bola fora do retângulo e devolvê–la ao mesmo jogador auxiliar. Neste exercício não existe mais a necessidade do defensor ainda estar dentro do retângulo para haver a validação do ponto.

Podemos observar agora que, além do atacante ter que combinar a ação de velocidade com ações técnicas do jogo (recepção e passe), ele deve também estar preparado para um possível duelo corpo a corpo com o defensor com o objetivo de proteger a bola e concluir a ação da tabela. Já o defensor tem que aliar a ação de perseguição em velocidade com a possibilidade do confronto corpo a corpo, ou para roubar a bola, ou para dificultar o passe e impedir a concretização do ponto.A Figura 4 apresenta o quarto exercício.

O quarto exercício apresenta as mesmas características do exercício anterior, porém o objetivo agora é fazer com que a bola recebida de um dos dois jogadores auxiliares chegue ao outro jogador auxiliar. Para isto o atacante, depois de se desmarcar para fora do retângulo e receber o passe de um dos jogadores auxiliares, poderá optar por duas ações: realizar o passe para o jogador auxiliar (como no exercício 3) e este jogador fazer o passe para o outro jogador auxiliar (como podemos observar na situação inferior esquerda da Figura 4); ou girar sobre o o defensor e passar a bola diretamente para o outro jogador auxiliar (como podemos observar na situação inferior direita da Figura 4). Vale destacar que neste exercício o atacante tem que necessariamente tomar decisões, ou seja, ele terá que optar entre tabelar com o jogador auxiliar ou girar sobre o defensor. Já este jogador terá que perseguir atacante em uma situação de indecisão, pois não saberá qual será a opção tomada pelo atacante. Assim, o defensor terá que conciliar uma ação de alta velocidade com a tentativa de identificar o quanto antes as intenções do atacante (qual opção será tomada) e, desta meneira, defender com mais sucesso.

Conlcusões

• Como podemos observar as componetes necessárias para o treino de agilidade e velocidade (mudanças de direção e acelerações intensas) estão presentes em todos os exercício;

• A cada elemento novo que é incluído ao exercício base damos um passo na tentativa de se aproximar cada vez mais de situações reais de jogo, ou seja, integrando os exercícios às características do jogo de futebol;

• Além das ações foram ilustrados por este artigo, outras também poderão ser incluídas ao elemento base dos exercícios, como finalizações com goleiro, necessidade de fazer um cruzamento, entre outras.



.: Felipe Mota, Mestre em Ciências do Desporto, na especialidade de Treino de Alto Rendimento Desportivo da Universidade do Porto (Portugal).

.: Bacharel em Esporte pela USP

.: Experiência em treinamento de equipes no Brasil e na Holanda.

.: felipesaojose@hotmail.com

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