Treinamento físico e sistema imunológico

Treinamento Força

O exercício físico quando realizado regularmente é denominado treinamento físico. A intensidade do treinamento pode variar de acordo com a modalidade esportiva, mas em geral atletas de alto rendimento tendem a realizar períodos de treinamento intenso com o objetivo de melhorar sua performance esportiva. Exercícios intensos podem provocar prejuízos à saúde de atletas, devido a uma diminuição da funcionalidade do sistema imunológico (1-2), enquanto que o treinamento moderado pode trazer melhorias à saúde através de uma melhora do sistema imunológica (3). É bom lembrar que o treinamento intenso, porém bem estruturado, têm menor chance de diminuir a função do sistema imunológico do que o exercício físico intenso mal estruturado.

O sistema imunológico tem a função de combater microorganismos invasores, na remoção de células mortas e detritos celulares e no estabelecimento da memória imunológica (4). Um dos efeitos negativos mais encontrados em atletas com baixa imunidade é a susceptibilidade a infecções virais nos mesmo, especialmente as infecções do trato respiratório superior (5).

Diversos fatores estão envolvidos com a diminuição do sistema imunológico, como o aumento de leucócitos circulantes. Diversos estudos têm sido realizados com populações leucócitarias (neutrófilos, monócitos, linfócitos e macrófagos, entre outros) a fim de analisar a influências de diferentes intensidades de treinamentos (4). Também existe um grande interesse em estudar o comportamento dos leucócitos após um jogo, uma prova ou até mesmo de um período de competição. Nosso laboratório tem desenvolvido estudos com atletas de hockey, futsal, corridas (maratonas e corrida de aventura), triatlon, vôlei, entre outros, a fim de se estudar os possíveis efeitos que diferentes modalidades esportivas de alto nível podem fazer no sistema imunológico de atletas.

Outro parâmetro muito utilizado para se verificar a funcionalidade do sistema imunológico é a produção de citocinas (pequenas proteínas solúveis secretadas por leucócitos, e outras células, e que têm por função modular a resposta imune) (4). Uma das citocinas mais produzidas pelo organismo durante um período de treinamento físico intenso é a citocina Interleucina-6 (Il-6). Esta citocina estimula a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, o que consequentemente estimula a produção do hormônio cortisol. O cortisol tem propriedades imunossupressoras, o que traz malefícios ao sistema imunológico. (10).

Algumas ferramentas podem ser utilizadas para tentar diminuir os riscos dessa diminuição da funcionalidade do sistema imunológico com o treinamento intenso, como vitamina C (6), ácidos graxos (7) e glutamina (8). Um fator interessante a ser considerado é que no inverno os atletas estão mais susceptíveis a doenças (9). O que parece mais coerente é que o treinamento físico deva ser estruturado corretamente por um profissional qualificado, que entenda as respostas no organismo decorrentes de diferentes intensidades de treinamento. Além disso, muitos preparadores físicos se preocupam apenas com o aumento do rendimento esportivo através de um treinamento físico de alta intensidade, porém se esquecem de que este tipo de treinamento pode sim causar uma queda do sistema imunológico, sendo coerente que se utilizem estratégias para se evitar esse fenômeno.

Referências
1 – Pedersen BK, Hoffman-Goetz L. Exercise and the immune system: regulation, integration, and adaptation. Physiol Rev. 2000; 80:1055-81.

2 – Nieman, D.C. Exercise, infection and immunity. Int J Sports Med 1994; 15: S131-41.

3 – da Nobrega AC. The subacute effects of exercise: concept, characteristics, and clinical implications. Exerc Sport Sci Rev. 2005; 33:84-7.

4 – LEANDRO, C. V. G. ; CASTRO, R. M. ; NASCIMENTO, E. ; PITHON-CURI TC ; CURI, R. . Mecanismos adaptativos do sistema imunológico em resposta aotreinamento físico. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 13, p. 1-6, 2007.

5 – Matthews, C.E.; Ockene, I.S.; Freedson, P.S.; Rosal, M.C.; Merriam, P.A.; Hebert, J.R. Moderate to vigorous physical activity and the risk of upper-respiratory tract infection. Med Sci Sports Exerc 2002; 34: 1242-48.

6 – Peters EM, Goetzsche JM, Grobbelaar B, Noakes TD. Vitamin C supplementation reduces the incidence of postrace symptoms of upper-respiratory-tract infection in ultramarathon runners. Am J Clin Nutr. 1993; 57:170-4.

7 – HATANAKA, E ; CURI, R. . Acidos graxos e cicatrização: uma revisão. Revista Brasileira de Farmácia, v. 88, p. 53-58, 2007.

8 – Lagranha CJ, Senna SM, de Lima TM, Silva EP, Doi SQ, Curi R, et al. Beneficial effect of glutamine on exercise-induced apoptosis of rat neutrophils. Med Sci Sports Exerc. 2004; 36:210-7.

9 – Nieman DC, Buckley KS, Henson DA, Warren BJ, Suttles J, Ahle JC, et al. Immune function in marathon runners versus sedentary controls. Med Sci Sports Exerc. 1995; 27:986-92.

10 – Nunes EA, Fernandes LC. Exercício agudo versus imunossupressão: talvez apenas outro mecanismo homeostático. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício.2009, v3(15); 312-324.


.: Gustavo Barquilha , Bacharel em educação física, mestrando em ciências do movimento humano (Unicsul)

.: Atualmente é preparador físico do Bauru in line Hochey, além de revisor da Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício e consultor de diversas revistas na área Fitness

2 comments

  • Eu gostaria de receber um dos treinamento de goleiro de futebol, se fosse possível manda um vidio , pra eu seria muito grato.

  • Porque eu sou treinado de goleiro amador e queria aperfeiçoá mais ,muito obrigado pela atençao.milton

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