Entrevista com o técnico de Usain Bolt!

Velocidade

Conheça um pouco sobre o técnico Glen Mills, diretor de esportes da Jamaica, que conta como desenvolveu o talento do recordista mundial de 100m Usian Bolt.

*entrevista concedida ao jornal NSA da IAAF, para a verão completa (em inglês) faça o download aqui!


Quando você descobriu que ser treinador era sua profissão?

MILLS: Cerca de 40 anos atrás. Eu encontrei uma paixão para treinar e tenho trabalhado no desenvolvimento de mim mesmo, tornando-me mais qualificado. Meu cargo principal ou minha profissão atual é a de Administrador de  Esportes. Eu tenho trabalhado aqui no Instituto de Desporto para mais de 20 anos. Ser técnico é a outra metade da minha vida onde eu gosto de treinar e acompanhar em campo depois do trabalho e em algum momento durante o tempo de trabalho.

 

Como você desenvolveu seu olho de técnico de corrida?

MILLS: Eu sempre fui fascinado com a velocidade, a mecânica de corrida e assim por diante. Eu acho que o que aprendi no México sobre as caracetrísticas físicas do ser humano, agilidade e coordenação ajudou. Houve uma matéria em Medicina Esportiva, onde olhamos para a identificação de talento e algumas das características necessárias para um bom desempenho em sprints em comparação com outros eventos. Esse conhecimento, que incluiu análise biomecânica do movimento de corredores de alta classe, tem me orientadoao longo dos anos.

Pessoalmente, acredito que o “olho de técnico”  faz parte de um dom que é exclusivo para uma pessoa.  Ao longo dos anos, tenho sido capaz de usar o conhecimento adquirido em cursos, livros, etc,  para identificar atletas que eu acho que vão longe na carreira de velocistas. É muito difícil de se selecionar fora dos princípios científicos, mas é preciso abordá-lo com uma mente aberta porque você pode perder um velocista bom ou atleta porque ele não se encaixa dentro da norma. É preciso estar atento a isso!

 

Você está treinando o velocista mais bem sucedido da história – Usain Bolt .  Como tem avaliado a sua técnica?

MILLS: Usain é um atleta extremamente talentoso. Quando comecei a trabalhar com ele, uma das coisas que se destacaram como um ponto fraco era sua mecânica pobre. Ele estava correndo atrás do centro de equilíbrio. Isto resultou em uma força negativa contra sua carrida para a frente e isso estava afetando outras áreas. Por exemplo, sua posição corporal exercia pressão sobre a parte inferior das costas e havia uma mudança contínua de posição do quadril com uma sobrecarga na musculatura posterior da coxa. Ele foi continuamente tendo problemas de isquiotibiais e minha avaliação foi de que uma das coisas que contribuiu para isso foi a sua mecânica pobre.

Nossa primeira tarefa foi levá-lo a correr com a parte superior do corpo em sintonia com seu centro de massa com uma inclinação para a frente de algo em torno de 5-10 °. Ele começou a fazer os exercícios e, em seguida, eu mostrava vídeos de seus treinos com o movimento em câmera lenta para mostrar exatamente o que estava fazendo. Eu desenhava diagramas para mostrar-lhe a posição que estávamos trabalhando para alcançar. Parte de sua fraca mecânica foi porque ele não era capaz de manter a posição durante a velocidade máxima de sprint, de modo que tivemos que fazer um intenso programa par desenvolver a sua força básica.

Em Pequim, ele mostrou o domínio da técnica que tínhamos trabalhado, mas essa transformação levou dois anos. Os atletas tendem a voltar a seus velhos hábitos quando colocado sob pressão ou quando correndo em velocidade máxima. Assim como ajudar um ator na aprendizagem de sua fala, os treinadores têm que continuamente recolocar os exercícios e técnicas treinadas para o atleta repetir mais e mais a fim de quebrar hábitos, tanto psicológicos quanto físicos para voltar na técnica correta execução.

 

Você pode descrever brevemente os elementos mais importantes de uma boa técnica de sprint? Sabemos que a posição do corpo, as fases de contato com o solo, mecânica de recuperação e ação do braço todos têm que trabalhar juntos, portanto você tem um modelo específico em sua mente?

MILLS: Todos os pontos que acabou de mencionar são os fundamento da técnica de sprint, mas a chave é como você inicia esse atleta para executar todos com precisão. Ele ou ela pode estar fazendo tudo, ou mais, ou apenas algumas partes, sem a perfeita coordenação e ritmo na execução. Uma chave é estabelecer uma boa posição do corpo na corrida para que o atleta seja capaz de manter o comprimento da passada e manter o tempo de contato com o solo curto depois de ter alcançado a velocidade máxima. Aqui, nós acreditamos que o desenvolvimento do flexor do quadril juntamente com a parte superior do corpo forte , ou o core, desempenha um grande papel. Uma vez que o comprimento da passada se reduz, isso implica em uma interferência negativa no contato com o solo e na mecânica de recuperação. Portanto uma falha técnica e a execução fraca da mesma resulta num processo de rápida desaceleração e queda de desempenho.

 

Até que ponto deve a  técnica de um atleta se adaptar às diferentes fases da corrida?

MILLS: As técnicas para largada, a transição para a aceleração, manutenção da velocidade e depois para reduzir os efeitos de desaceleração são diferentes. O atleta deve ser capaz de ajustar a técnica para as diferentes fases, sem perda de tempo. Se, por exemplo, quando o atleta muda saindo da fase de largada par a fase de aceleração e a técnica não estiver correta, ele pode perder  “momentum” significativamente. Mesmo que ele esteja em uma boa posição durante a fase de largada, você vai vê-lo ficar para trás já que vai ter que gastar tempo para se desenvolver o impulso para voltar a velocidade máxima e para a corrida. Nos 100m, atletas geralmente não tem tempo para corrigir isso quando acontece.

 

Como você distingue as diferentes fases de corrida? Qual é a relação aproximada dele ?

MILLS: Eu defino isso de acordo com o indivíduo. O atleta por si mesmo e seus pontos fortes e fracos é que determinam a duração das diferentes fases. Por exemplo, a duração da fase de aceleração é afetado pela quantidade de força que o atleta tem para ficar na posição abaixada enquanto desenvolve a máxima potencia. Se o atleta não tem a força para alongar essa fase, então ela tem que ser abortada para que ele possa ir para  a transição  cedo. Se ele é forte, como um Asafa Powell, e possui uma técnica eficaz, ele pode alongar essa fase. Ajusto as fases para se adequar aos pontos fortes e fracos do atleta, se ele é um corredor explosivo dos blocos ou um com melhor velocidade final. Se, por exemplo, você define que a fase de largada será de 25m, você pode ter problemas com algum atleta que talvez precise variar. Certamente um atleta com grande velocidade final pode encurtar essa fase porque a probabilidade é dele alcançar a sua velocidade máxima antes e mantê-la no terço final da prova. Evidente que se o atleta tem diversas deficiências, você deve corrigi-las enquanto define as fases da corrida, mas você não pode adaptá-lo as fases que ele não é capaz executar.

 

Como a antropometria influência a técnica?

MILLS: Todo atleta tem um ritmo natural, portanto você começa com seu ritmo natural ritmo e olha para as deficiências que existem. Por exemplo, o ocomprimento da passada,. Se um atleta tem o alcance necessário em termos de estrutura física, digamos alguém que tem 1,83 m de altura, mas está dando passos que são mais curtos que ele deve, tento analisar quais as áreas que estão contribuindo para essa situação. Geralmente é a força de vários músculos que realizam os movimentos e, portanto, devemos trabalhar, principalmente na “off-season”, para mudar o atleta: 1) desenvolver a força necessária e 2) para melhorar o padrão de passadas com exercícios específicos.

Por exemplo, podemos determinar a passada natural do atleta e, em seguida, usamos os marcadores para definir a extensão da passada. Em cada exercício, alongar o marcador de uma forma muito moderada, talvez de meia a uma polegada. O atleta tenta estender o comprimento da passada para atender os marcadores. No entanto, ele deve garantir que não está hiperextendendo para atender o marcador (ele tem que levar o seu joelho até a altura necessária, a recuperação do calcanhar deve ser correta, etc ) Uma vez que os atletas começam a fazer isso corretamente, eles tendem a abrir mais e executar um passo com mais comprimento. Eles serão capazes de manter a velocidade máxima, sem mais passadas.

Descobrimos que se pode estender o comprimento da passada e manter a velocidade correta que irá melhorar significativamente o tempo. Também tentamos desenvolver o atleta mentalmente e fisicamente para estar ciente da manutenção da passada mesmo em situação de fadiga, principlamente nos 200m. Você só consegue manter a velocidade máxima por 50-60m , mas como você mantém o comprimento da sua passada é o que determina seu tempo final.

 

TREINAMENTO ESPORTIVO.COM, com a cortesia do site SpeedEndurance.com!

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.